domingo, 10 de abril de 2011

Vidas Interrompidas

Uma mãe manda a filha à escola. Antes de sair de casa a menina posiciona o rosto para receber um beijo carinhoso de mãe. A menina segue seu caminho para a escola e durante seu trajeto ela pensa sobre planos para sua festa de quinze anos no ano que vem pensamento que se intercala com seus sonhos de ser cantora, com as lembranças das mais recentes conversas com os amigos na Internet... Enquanto a mãe já pensa sobre o que fazer para o almoço, lembrando da filha e do que ela reclama comer e do que gosta... A garota assiste à aula, sem jamais imaginar o que viria a seguir.
Hoje a filha não retornará para o almoço. Sem que soubessem, aquele beijo tão cotidiano de saída para a escola foi o último beijo entre uma mãe e uma filha.

Quando a notícia sobre a tragédia em que um atirador entrou em uma escola fazendo vítimas inocentes chegou até mim, claro, me impactou profundamente.
Notícias como estas estamos acostumados a ouvir em noticiários internacionais. Acostumados até demais infelizmente. Dessa vez foi em nosso país, no meu caso foi em minha cidade.

Algo que nos assusta profundamente é a Violência inesperada que escolhe um caminho que nos pega de surpresa para nos mostrar a sua horrenda face. Não se imagina ao mandar um filho à escola ou ao estar assistindo à aula que alguém vai entrar lá atirando! Como também não esperamos que alguém entre atirando quando estamos fazendo compras em um shopping! (como na notícia internacional não muito depois). E nos assusta pensar: “onde o próximo atirador irá atuar? Numa calçada movimentada? Num templo religioso?
Claro que não deveria ser tão fácil entrar armado em uma instituição de ensino! E o caso, com certeza, reabrirá discussões necessárias como “o acesso de pessoas de fora a uma escola”, “leis sobre venda de armas”, “uso de detectores de metais em locais públicos” etc. Enfim discussões que precisam ser feitas.

Mesmo que as vítimas não sejam pessoas que conheçamos pessoalmente sentimos uma profunda tristeza enquanto nos enchemos de perguntas. Quantos profissionais de amparo público não verteram lágrimas ao estarem diante daquele cenário?
E, nos toca profundamente pois reconhecemos a nós mesmos nas vítimas! Eram meninas e meninos tão parecidos conosco! Parecidos em sonhos, atividades, gostos... Quem sabe não tenhamos, em meio a tantas conversas de internet uma vez conversado com uma delas? Lembrei-me de mim aos treze e quatorze anos.
Vidas com tantas expectativas! Com tantos sonhos! Vidas tão brutalmente interrompidas.

O que dizer às famílias? O que dizer para consolar os corações de mães que tiveram seus filhos arrancados de si de uma forma tão estúpida? Eu posso até tentar imaginar, mas nem de longe chego perto de saber a dor de uma dessas mães. E que resposta dar à perguntas que se repetem nos corações dos parentes “Por que justo aquela sala?”, “E se ela não tivesse ido!”, “E se ela estivesse numa carteira diferente?” (...) Enquanto cada uma das pessoas mais atingidas busca diferentes respostas que as consolem nosso país se entristece em luto diante de tão cruel face da violência.

Como em outras tragédias heróis da solidariedade resgatam um pouco da dignidade humana que nos parece fugir quando um assassino dispara uma arma.

Entre tantas perguntas que emergem perante essa notícia! Perguntas sobre questões de segurança pública, perguntas sobre a vontade e a permissão divina, sobre como seguir a vida, sobre como superar a dor, perguntas sobre a natureza humana... Muitas perguntas!
Entre elas a pergunta perante o inesperado, e nesse caso um inesperado tão doloroso:

Qual a certeza que se tem na vida?
A certeza de que é preciso amar.